segunda-feira, 26 de julho de 2010

Borboleta Colorida


Finalmente teve tempo para respirar um pouco, e em meio a correria de tudo o que tinha que arrumar, parou um pouco, se fixando próxima à varanda. Seu pensamento ainda estava nos deveres, e ela ainda estava a mil. Contas, números, senhas, compromissos, era como se um computador de alta velocidade estivesse dentro de sua cabeça. Mas de repente ali dentro tudo se tornou silencioso.
 Virou-se para dentro de seu apartamento, e ao perceber que estava em frente a seu espelho, parou e se observou por alguns segundos. Se aproximou do seu reflexo e conferiu a si mesma. Estava impecável. Mas alguma coisa a incomodava, e ela se sentia vazia.
 Os compromissos corridos do dia-a-dia arrancaram a calma que aquela mulher costumava carregar, e o seu sorriso, ela mesma notou: era raro. A companhia de seus domingos não era mais seu livro favorito, e ela havia se convertido em uma incrível máquina de fazer negócios. Mas isso não era tão incrível aos seus próprios olhos.
 Voltou-se, então, à varanda outra vez, e ao observar o lindo parque que tinha como vista, se lembrou de todos os planos que tinha ao comprar aquele apartamento. Ela sonhava com ele desde muito nova, e planejava que estaria sempre andando entre as árvores dali, compartilhando o momento com alguém em especial. E então ele se foi, ela se endureceu por dentro, e tudo se converteu em questão de localidade. Sentia dentro de si por alguns minutos uma sensação de vazio que sempre ignorava e insistia em constatar que não era nada.. Mas era sim. Naquela mulher faltava o amor.
 O amor próprio, abandonara. O amor de fora, ignorara. E não sabia mais o que fazer.
 Estava só por opção e tratava aquilo como estado de vida permanente, recusava-se a mudanças bruscas, sentia medo frequentemente.
 Ao olhar para os céus, sentiu algo diferente. De alguma forma, ela tinha absoluta certeza que tinha alguém que se preocupava com todos aqueles sentimentos horríveis que a assombravam, e que ela não abandonava por medo.
 E ainda pensando que aquilo seria inútil, fechou os seus olhos e gritou.
 - Se realmente existe um Deus que se importa, que Ele possa me abraçar agora, preenchendo tudo o que está vazio em mim.
 Foi quando um forte vento soprou sobre o seu rosto, e as árvores se movimentaram liberando um cheiro agradável que a invadiu, e ela se sentia envolta de milhões de sorrisos. Uma solitária borboleta colorida pousou em suas mãos.
 Ela levantou seu olhar e teve certeza: Ele estava ali. E finalmente, aquela mulher sorriu, e passou a ter um novo motivo para viver.
 Pegou o que encontrou em cima de sua cama, e saindo pela porta da frente de sua casa, ela sabia estar seguindo rumo à uma vida melhor...

sábado, 24 de julho de 2010

Apenas diferente.




 Eu posso temer o dia de hoje, ou apenas sorrir a ele tendo em mente que este pode se tornar o melhor da minha vida inteira. Cabe a mim a decisão de torná-lo bom ou não. Eu sei que isso pode até parecer um clichê como outro qualquer com intenção apenas de facilitar ou dificultar mais ainda tudo o que tenho pela frente, mas hoje já compreendo que não é assim que a vida funciona. Hoje encontro fundamentos demasiados para ter a certeza que posso fazer tudo diferente de ontem ou apenas permitir que seja tudo igual..
 Ao olhar para o céu e me deparar com essas nuvens escuras, eu posso reclamar pelo mau tempo ou sorrir e agradecer pela chuva que alimentará as mais belas árvores que tenho o privilégio de ter como paisagem... Posso me aborrecer com os problemas que de alguma forma tem de ser resolvidos hoje, ou me alegrar por estar prestes a me livrar deles..
 Posso ser dura com aquele amigo que errou e vem me pedir perdão, ou posso me alegrar, abraçando-o forte e dizer o quanto ele me fez falta.. É, a minha vida sou eu mesma quem construo.
 A verdade é que se eu não valorizar o hoje, e passar a esperar somente que o amanhã seja melhor, o amanhã será exatamente como o hoje, até que já não haja mais amanhã. E me restará apenas lamentar, aonde quer que eu esteja, de ter feito esse tipo de coisa. De ter sido esse tipo de gente.. Medíocre. A minha vida merece ser reconhecida pelo valor que ela tem, e os meus dias precisam ser sempre especiais de alguma forma... Eu preciso mudar pra melhor e ter coragem suficiente para seguir em frente tendo fé que eu posso mudar.
 E que a minha decisão mude os meus atos, e eu espero que meus atos me mudem pra melhor.
"Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é só um dia mais. (José Saramago)."
 E que eu seja diferente da maioria.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Semblante de adeus


 Se te grito não me compreendes, pois nem eu mesma tenho capacidade de fazê-lo agora. Estou confusa, e não sei bem o que sentir... É estranha a sensação de despedida.
 Não sei se te amei direito, e realmente acho que não. Não pude te regalar o meu melhor, porque me escondia constantemente debaixo das asas do meu grande medo.. E me culpava diariamente por ser tão medíocre guardando e utilizando esse tipo de sentimento.
 E anunciando o fim me culpei mais ainda pelo vazio que nos apareceu. Sim, eu sei que me amas, mas também sei que você merece mais que só a mim... Merecias minha alma, meu corpo, as forças que guardo, e por não poder me entregar a ti desta maneira, me virei à um novo caminho, tentando achar uma maneira rápida, e depois duradoura de ser feliz.
 A sensação de borboletas no estômago foi tomada por um embrulho ruim que me tomou todo o corpo, e eu não consegui sorrir ao me mostrar a ti pela última vez. Que guardes meus sorrisos mais doces, para que assim apague meu triste semblante de adeus implícito, ao qual, por alguma razão, se recusa a ser dito.
 Espero que tenha feito o certo, e que depois de mim, sejas ainda o mais feliz de toda a terra.

domingo, 18 de julho de 2010

Sinto muito, é o fim.


E se for pra lembrar do nosso amor, lembre-se dos momentos bons, e tente esquecer o agora que nos distancia a cada vez mais.. Eu sinto muito por não ser o que você sempre quis, mas exatamente por não sê-lo, agora chega ao ponto final definitivo. Eu sinto que é isso que nos passa.
 As idas e vindas, as nossas controvérsias, hoje eu sei que grande parte disso, ou até mesmo tudo isso é de minha responsabilidade, e por isso me pesa a consciência, que sonhava em nunca machucar ninguém baseada nos falsos juramentos de um tempo um pouco antes de você. Eu nunca quis te magoar. Eu só posso dizer que sinto muito, e ser mais sincera ainda ao dizer que espero que você não fique assim por muito tempo.
 Desejo que o tempo faça com que você me esqueça, vai ser melhor assim. Os nossos caminhos se separam a partir daqui.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Não foi só um sonho.


 
Não há mais importância nas suas lembranças repetitivas. O meu pequeno sofrimento já se esconde nos sorrisos diários e quase falsos de um dia normal. É só parte do meu cotidiano rever o passado. É só o meu inútil costume de te lembrar e inevitavelmente, sentir sua falta. É normal juntar palavras de aparência vazia sobre você, quando na verdade eu sei, elas estão preenchidas com a minha saudade, ou qualquer outro sentimento que traduza a mesma coisa.
 Palavras, frases, textos.. Coisas sobre você que eu espero que nunca cheguem ao teu conhecimento. Porque é melhor que você pense que eu não me importo, assim eu não passo a fazer parte de uma das suas preocupações.
 Desejar mais uma vez o impossível de voltar no tempo, e repetir inúmeras vezes aquele momento: em meio a tanta gente você escolheu a mim para abraçar forte e sorrir. Não há o que eu não faria para reviver aquele seu olhar e me sentir completa. Sentir teus braços me envolvendo como se há tempos o esperasse, e o desejasse, até mais que eu.. O amor não é mais o mesmo, mas ainda assim aguardo o milagre que me traga o tempo de volta, para que assim eu possa me certificar: não foi só um sonho.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Reverência ao Destino

Falar é completamente fácil, quando se tem palavras em mente que expressem sua opinião.
Difícil é expressar por gestos e atitudes o que realmente queremos dizer, o quanto queremos dizer, antes que a pessoa se vá.

Fácil é julgar pessoas que estão sendo expostas pelas circunstâncias.
Difícil é encontrar e refletir sobre os seus erros, ou tentar fazer diferente algo que já fez muito errado.

Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir.
Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso.
E com confiança no que diz.

Fácil é analisar a situação alheia e poder aconselhar sobre esta situação.
Difícil é vivenciar esta situação e saber o que fazer ou ter coragem pra fazer.

Fácil é demonstrar raiva e impaciência quando algo o deixa irritado.
Difícil é expressar o seu amor a alguém que realmente te conhece, te respeita e te entende.
E é assim que perdemos pessoas especiais.

Fácil é mentir aos quatro ventos o que tentamos camuflar.
Difícil é mentir para o nosso coração.

Fácil é ver o que queremos enxergar.
Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto.
Admitir que nos deixamos levar, mais uma vez, isso é difícil.

Fácil é dizer "oi" ou "como vai?"
Difícil é dizer "adeus", principalmente quando somos culpados pela partida de alguém de nossas vidas...

Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados.
Difícil é sentir a energia que é transmitida.
Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa.

Fácil é querer ser amado.
Difícil é amar completamente só.
Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo do depois. Amar e se entregar, e aprender a dar valor somente a quem te ama.

Fácil é ouvir a música que toca.
Difícil é ouvir a sua consciência, acenando o tempo todo, mostrando nossas escolhas erradas.

Fácil é ditar regras.
Difícil é seguí-las.
Ter a noção exata de nossas próprias vidas, ao invés de ter noção das vidas dos outros.

Fácil é perguntar o que deseja saber.
Difícil é estar preparado para escutar esta resposta ou querer entender a resposta.

Fácil é chorar ou sorrir quando der vontade.
Difícil é sorrir com vontade de chorar ou chorar de rir, de alegria.

Fácil é dar um beijo.
Difícil é entregar a alma, sinceramente, por inteiro.

Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida.
Difícil é entender que pouquíssimas delas vão te aceitar como você é e te fazer feliz por inteiro.

Fácil é ocupar um lugar na caderneta telefônica.
Difícil é ocupar o coração de alguém, saber que se é realmente amado.

Fácil é sonhar todas as noites.
Difícil é lutar por um sonho.

Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata.                                  
                                                            (Carlos Drummond de Andrade)

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Questão de obediência


Depois da experiência própria, tive que aprender que é mais difícil quando a culpa é minha, e que perdoar a mim mesma é a decisão mais difícil a ser tomada.
 Percebi que a culpa é um sentimento crescente que de vez em quando pode ser maior que eu, me causando um sentimento de tensão misturado a muitas coisas que eu não sei definir, e que se por acaso os meus erros atingem a alguém que eu amo, o coração vai se tornando uma bola de neve recheada de um tanto de coisas horríveis e incontroláveis que me roubaram tudo o que eu tinha a dizer.
 E eu, obediente aos sentimentos, e perdida dentro de mim, fui obrigada a terminar por aqui. Não sei o que fazer, tampouco o que dizer, o meu silêncio recomeça aqui.