segunda-feira, 28 de junho de 2010

Domingo, 23.



Ele me olhava fixamente da maneira mais intensa que eu já pude sentir. Nunca passou pela minha cabeça algum dia que alguém que eu nem conhecesse direito pudesse me despertar uma onda de sentimentos misturados tão grande. Mas ele o fez. Os meus pais me aguardavam na porta, e tentavam conter os ruídos que ela fazia de quando em vez. Eu não sabia porque mas eles sentiam uma necessidade profunda de escutar o que havia  para ser dito em seguida, e não queriam que eu soubesse dessa estranha curiosidade.
 Sem motivo algum, me enfraqueci, e não tive fundo de força algum para me manter de pé. Sentei-me naquela cama que eu tanto detestava, e esperei silenciosamente, já com os olhos cheio d'água, a notícia que caminhava de forma sombria em minha direção.
 Eu não sabia porque, mas sentia que aquilo tudo não ia ser muito bom pra mim, nem pra niguém que se importasse comigo, afinal, não é normal ter que frequentar um espaço como aquele como eu estava fazendo quase diariamente. Tudo gritava por socorro, e eu não queria ter que me juntar aquele coro de sofrimentos vazios.
 Eu sabia que já era chegada a hora, e aquele homem conseguiu alcançar um semblante que me dizia o oposto daquelas roupas claras que carregava consigo por obrigação.
 Ele se abaixou lentamente visando estar na mesma altura que a minha fraqueza me colocou, e tentando alcançar alguma expressão de consolo, ele finalmente se encorajou:
 -Sinto muito, você tem câncer.

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